numeral
a página em branco
reclama sujeito e predicado
os livros abertos na mesa
os quadros na parede
os pinceis
as telas
a caixa de giz sem memória
o pequeno vaso
o silencio dos talheres
os véus da noite
o ritmo coronário
o multiplicar das células
reclama a poesia
inventar emoção
desejar o amar
desejar o desamor
desconstruir lembranças
desconstruir cores e sons
espalhar sementes
rabiscar equações
acomodar fuligem e esqueletos
perder-se em longitude e latitude
meus pés
os braços
corpo e sexo
existem na pagina em branco
os alfabetos
os recortes amarelos
os sapatos
os latidos
a bengala e os óculos
as chaves perdidas
os mapas da utopia
as radiografias guardadas
as certidões esquecidas
o sagrado e profano
água e sede
os vetores do infinito
algoritmo da chuva e dos desertos
cicatriz e fome
pagina em branco
invento códigos, compassos, verso destemido,
em paginas em branco
vertentes inacabadas
respiram comigo