capricórnio entre marte e saturno II
na tarde descascada
o amor fritava nas ruas
Calvino e Dostoievski acumulados me espreitam num banquinho
sábado escorria depressa
durante a epidemia pintei muitas telas
as paredes do apartamento uma galeria
a prótese incomoda envelhecida
provocando dores intensas
breve voltarei ao bisturi serras brocas parafusos
dias de internação hospitalar
o sol desaparece
cai o breu abafado enorme
ventania revolve lembranças em preto e branco
vozes ecoam do pretérito nem sempre mais que perfeito
desbotadas com o passar dos anos
sentimentos difusos em círculos
na noite descascada me despem
noticias televisivas em baixo som trazem explosões e desespero da Palestina
a poesia encurralada serve de prece pela humanidade
outubro derradeiro sorvido rapidamente e copo vazio
rompendo silencio do apartamento novo disco dos rolling stones começa ecoar
chama da vela perene imagem de Ogum iluminam noites por viver
o domingo trará cicatrizes na pele dos homens...