Relógio quebrado
Manhã prateava casas encolhidas
galope mágico das palavras sonolentas
ventania faminta engolindo proletários gris.
fotografia tremeluz
no claro-escuro da memória.
O amor era açúcar na boca matinal
minha pele reconhece lembranças refrangidas
espelho a revelar longos lábios azuis
alvorada imaginária
manhã plúmbea nas veias
respira cinema suor de todo dia
imagem sobrepondo imagem
cidade crescendo
fermento invisível
integrante do meu id.
Amor partido expele minha fome espacial
corpo-navio
água-som
água-luz
lagarta devorando folhagem
alimento e delírio.
Palavra
constelação oculta
pilhas de poesia quebrando nos degraus da lucidez.
Manhã quebrada
paixão e nanquim
raiz do verso brotando ancestral
pés caminhando na podre delicia das pedras
renascer a dor
renascer todos os alfabetos
em mim começa o tempo.
Manhã em mosaico vivo
nua utopia a me abraçar
fruto real irreal de viver.
*poema publicado em 1985