domingo, 29 de dezembro de 2013



Espelhos





corpo riscado por cicatrizes
identidade diluída nas ruas 
mapa sem coordenadas 
miopia das palavras 
ortopédico limite

encalhado navio esperando chuva de verão
cegueira da poesia e verbete com sede 
corpo na travessia dos dias 
paginas embaralhadas 
luz alaranjada da alvorada 
e respiro....

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013







Amor 




Noite mergulhada no breu
num barraco
três vidas 
três tocos de vela 
três chinelas 
Tempestade
barraco despenca do morro
barraco soterrado
três corpos abraçados na lama....                      
                                1980

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

DEZEMBRO DE SOL

Minutos que vão sendo colados, compondo imagens na tela da lembrança, silencio quebrado, musica que volta, dormia em alguma gaveta do passado. Música e textura de formas e cores, olho para a varanda plena de luz e vento.
Os passos ainda são lentos com apoio de uma bengala metálica com tripés, artroplastia total de quadril, novo desafio que precisei enfrentar, depois de terríveis dores, agora tudo ficou guardado no arquivo da memória. As dores estão em paginas viradas, a lembrança imóvel da insônia que me acompanhava nas madrugadas no quarto do hospital.
Deixo o sol bater no rosto como o melhor presente para a pele sentir, toda a luminosidade solar, provoca uma grande satisfação, os minutos passam e apenas observo da varanda o limite azul do horizonte com a música na mente, as palavras incompletas por escrever. Sons urbanos, ventania, invadindo a sala, Dezembro trazendo o verão, sempre a motivação de perpetuar o germinar da criação, imagens que vão sendo construídas, sem ordem, lentamente composição de palavras e imagem consolida-se na tela da memória. Lembro como devorava os livros de Clarice Lispector, sempre os lia como poesia, e bebia as palavras com grande avidez despindo todas as arestas que Clarice construía, sutil engenharia fazendo com que sentisse plenitude ao ler. Cenas e sensações, toda a emoção de estar devorando o tempo presente e tecendo o instante seguinte.
O dia vai sendo bordado na pele, agora os pelos da barba crescem brancos, a surpresa do cotidiano sempre nos comove, enfurece, ou e´indiferente redemoinho de sensações que vão querendo levar a lucidez.
Os fatos cotidianos quase todos são banais ou surpreendentes, o mosaico das horas vai dando a tonalidade, embora tudo seja novo a cada instante que passa. Vivemos e envelheço, o mundo e suas percepções, na pele, na língua, na luz que penetra meu olhar. Assim essa aventura de estar vivo consome as células e escrevo essa viagem desconhecida que a cada dia vai consumindo cada homem ou mulher que anda pelas ruas, pelas cidades do planeta. O planeta e´revestido de uma única pele, sem muros, sem escadas, sem fronteiras, apresenta-se sempre nu....
Dezembro quente, despe a cidade de suas cascas, os bairros reverberam ritmo alucinante, sentimentos diversos estão tatuados nas pessoas apressadas que andam de lá para cá, movimento marcial, rápido, sem tempo para esperar, com pressa de ir, expressão de incertezas fica boiando no ar. A cidade consumindo a solidão das pessoas, de maneira sutil como invisível vampiro.
O olhar e o pensamento percorrem as ruas do passado, então revejo ruas, avenidas que fazem parte da minha história, emoções diversas misturam-se com sons e luzes, a tarde abafada dilui qualquer pretensão para revolver meu deserto.
As palavras, as cores, tramitam pelos meus dedos, mas escorregam como agua e apenas sobrevivo inquieto, as luzes da tarde salvam minha identidade ! Quantas frases e versos escreverei ? Quantas vezes a busca por formas ou palavras irá consumir minha lucidez ?
Dezembro de calor e luz ilumina as arestas possíveis, as tantas palavras que surgem no pensamento,as imagens e minha história ! Tocar o impossível, manufaturar com as mãos a alegria de viver, de materializar o amar em imperecível flor ! Sina cicatrizada na alma, e sempre sonhar com os dezembros de sol....
Por um fio, as palavras quase fogem e completam a anarquia do meu sentir o mundo, recortadas imagens, embaralhadas palavras e minha emoção escoando na chuva, chuva pesada cai impiedosa lá fora, busco recobrar equilíbrio, mas a sensação divertida de perder as palavras que gostaria de escrever e escrever outras sem quase pensar reduz a nada a ideia de estar inspirado ou motivado a escrever um tema. Apenas o signo nascendo e viver seu significado de acordo com meu desejo.
Grossa chuva cai anunciado o verão voraz em afogar os pecados da cidade, meu olhar busca alguma cumplicidade com os livros da estante, iniciativa sem sucesso, os livros apenas são objetos possíveis de incendiar a solidão das horas se assim quisermos.
A música da chuva em ritmo único atravessa as horas enquanto a cidade sofre as consequências do excesso de asfalto, cimento, concreto, arquitetura sem harmonia, alagamentos e desolação na periferia. Ritual de indiferença institucional, subproduto da diferença de classes.
Escrevo e salvo-me, busco em cada signo abrir infinitas janelas e percorrer o que não tem tradução, apenas respira comigo. Janelas, portas, barreiras impostas limitando o corpo finito, livre o pensamento vence os limites e atravessa a noite chuvosa, provando as gotas da chuva saciando a fome de existir e criar quantos universos possíveis podendo superar a tridimensionalidade e tocar o improvável o que ainda não podemos supor. Experimentar a ambrosia dos deuses !
Calendário mudando consumindo nossas celulas, a história registra a tragédia humana na superfície do planeta, e assim iremos beijar os lábios do caos. Iremos destruir séculos de evolução ? O compasso da chuva e´constante, a sedução pela cor pela palavra consome o edifício dos anos. A criação consome, desgasta, pouco importa para o leitor, o expectador , o que importa e´a frágil sensação de chegar em algum porto seguro.
Necessidade de traduzir a nós mesmos sem entender o significado e sempre sentir os limites a incomodar a pele. Incomodado, inquieto, desfaço a ferrugem cotidiana e traço um esboço, depois, realizo como linhas definidas e cores emocionadas a construção do momento que vibra na folha de papel, na tela, antes deserta e nua.
A cidade não dorme, sua vida noturna vibra na carne dos solitários, dos amantes que sedentos encontram-se, continente de ébano abrindo sem chaves a nudez de nossas vidas. O pulsar da vida faz-se silente, liberando as ancoras e assim corremos todos os riscos e perigos de fragmentar nossa comoção e rebeldia.
Noite de chuva, cidade chora seus pecados, suas misérias, avenidas, alamedas, ruas, toda a geometria urbana afogada pelos córregos, minha palavra, promovendo tradução incessante do existir sempre expõe meu próprio espanto.
Ciclo independente renasce a todo instante, universo que morre e nasce dentro de mim, extrapola o corpo , a geografia, o sistema solar, somos um corpo único, somos em Deus , somos o anti-Deus, que auto devora-se em ato amoroso e assim a vida perpetua-se sem necessidade de calendário ou registro, por si, metamorfose ambulante da vida, os compêndios filosóficos existem para amarelar, e serem esquecidos . A vida por ela e para o infinito, somos agrupamentos de átomos de carbono em reações químico-físicas a multiplicar a especie na superfície do planeta, animais “organizados “ em sociedade lutando pelo poder até chegar a grandes conflitos bélicos entre nações, somos perigosamente amantes do caos.
As gotas da chuva batem com força na janela, fico lendo as palavras no pensamento antes de digitar, antes de formar imagens junto com a palavra, fecho os olhos, penso em músicas, escolho uma como tema e misturo com o barulho da chuva e tudo fica em harmonia por alguns instantes. A musica me faz sentir mutante, faminto por novas frases, tudo devora tudo e então renasço ao sentir a madrugada chegando com os primeiros fios de luz sobre os edifícios molhados.
A cidade retoma o ritual cotidiano, a pressa matinal, os minutos observados, as principais avenidas congestionadas e o gosto de café ainda domina o paladar. O rádio ligado em outro apartamento me lembra que o planeta esta incluso dentro das minhas entranhas, compartilho a angustia, a solidão, a dor, a alegria, o ódio, a rebeldia, sou identidade numérica, sou todos os livros lidos, os poemas escritos, as cores que pintei, as noticias que escuto, a família, a história que vivi... Releitura constante movendo as emoções, modelando um mosaico instável.
Multiplico o alfabeto e o pensamento faz veloz travessia no passado e assim consigo rever velhas amizades, momentos preciosos compondo minha história. Verbo reluzente que motiva o passo seguinte, insisto em vencer os limites, tenho em mim todas as cores, tenho em mim o amor que multiplica a vida, tendo as sementes do sol no esqueleto.
Compartilho do pó das estrelas, sou com o planeta, raiz e seiva, o delírio alaranjado dos hibiscos provocam grande alegria apesar de ser menor que um grão de areia numa escala cósmica.
Quero o sol queimando musgos da angustia, andar colecionando fotografias do cotidiano e saudar cada dia vivido, incrível aventura da vida renascendo a cada dia independente do nosso querer, das amarguras que precisamos enfrentar e ultrapassar. Quero sol queimando as páginas de dor, as marcas da solidão pichadas nos muros da cidade...
Subversão oculta que sempre caminha ao meu lado, quero o sol na minha face, e dividir o sonho de um país sem o horror da miséria, da corrupção sórdida dos eleitos pelo povo, quero o sol queimando todos os pesadelos, e intensamente viver os dias na cidade.
Olhar a realidade e reconhecer o limite da minha identidade, então recorro aos traços, as palavras, cenários e personagens, mosaico vivo consumindo a existência. No espelho me vejo envelhecer, mas a vital subversão permanece respirando nua, sensual, saciando meus desejos...
Busca que não cessa, o impulso de criar e não entender o porque, criar e sentir-se satisfeito, depois recomeçar tudo novamente, deserto que devora qualquer fio d'água, as horas, os dias, as semanas, o movimento das ruas, da cidade, vida e morte irmanadas tatuando nossas vidas e olhar para dentro de nós e olhar para os olhos do próximo e aprender que somos uma mesma diversidade, ilhados em nós mesmos construímos e destruímos, eros e thanatos, na mesma máscara. Então colorimos a realidade material, nossos corpos em cópula, silenciosa alquimia do existir, estimulados pelos hormônios, a nossa presença material perpetuada na superfície do planeta . Afinal somos proprietários de nossos corpos ?
Ferramenta e posse, corpo e agir, ferramentas desde a pré-história para matar, para comer, sobreviver, criar a civilização, Deus nos joga em labirintos para superar os limites, paredes que nós mesmos erguemos, e Deus nos assiste sem interferir em nossos descaminhos...
Chuva lavando nossa dualidade, palavras perdidas fugindo para os bueiros, então por que recriamos o amor ? Instinto da preservação da espécie ? Ruas que atravessam meu corpo, ruas que deixam fotografias anônimas coladas na pele, comoção por estar vivo sem levar dogmas debaixo do braço.
Dezembro abafado enchendo a sala de comoção, resolvo sair, e esquecer aqueles sentimentos difusos, minha marcha e´ lenta, mas isso perde a importância tudo parece , reviver por que estou reaprendendo a andar, com a ajuda de andador e bengala, depois de meses impossibilitado de levantar e andar. Sensação leve e diferente, a conquista de um passo após o outro. Estranha satisfação, mas real, voltar a andar pela calçada foi como fazer o gol da vitória de uma partida de futebol !
Ficar contemplando a plenitude azul, intenso azul, depois de grossa chuva, satisfação semelhante a ouvir um concerto esfuziante e alegre de Mozart...
Abraço dezembro e quero multiplicar verbo indomável, abraçar os amigos, alimentando a teimosia de viver , ultrapassando minhas limitações, falhas, desencontros, olhar mais uma vez o limite azul e continuar meu caminhar sem escolher direção , com a certeza que devo ir..

12/2010


domingo, 15 de dezembro de 2013



Margaridas 


           Do útero da noite nascem palavras neon,  numa disposição marcial. Saltam da máquina de escrever com voracidade para intervir na realidade. Pouco a pouco a carne da noite revela-se sedutora e móvel.
           Meu corpo na casa, mimetismo para todos os sentimentos e disposição para despir o sol escondido nas margaridas do vaso sobre a mesa. Os personagens da casa dormem, adormecidas suas vidas cotidianas enquanto a casa viaja nas tranças do tempo. Porta aberta para os espectros tramitarem as páginas da sua história anterior. Num circulo eles se dispõem e conversam seu idioma, não os compreendo, curiosos, percorrem os cômodos da casa, observam os livros, a televisão desligada, a pequena estátua nua morta.
           A casa continua sua viajem na correnteza do tempo, embarcação errante no oceano de fatos acontecidos, cheiros, sabores. Os dedos percorrem velozes as teclas codificando impressões e vida. Os espectros se cansam e somem na nuvem das horas, enquanto percorro a geografia dos pensamentos.
           O olhar mergulha no álbum das coisas acontecidas buscando velhos endereços expondo toda uma carga emotiva revividos num segundo. Açúcar que retorna aos lábios, cenas de um filme lento exposto ao olhar e verbo pretérito. Ruas de pedra onde trafegam identidades livres, trampolim fotográfico, âncora recolhida, conjugação disparando.
           Reconhecimentos bailando sem música, imagens cruzadas, devorando raízes do momento passado, o segredo dos ancestrais. Carregamos conosco todos os gritos pré-humanos e as sementes da morte. A morte irmã de todas as células do homem que sou, fruto a ser mordido por isso somos uma aventura desconhecida em corpos de carne.
           Viajem que segue em recortes de jornal, sequencia de textos lidos  que jamais retornarão, transpiramos originalidade para criar e não entender as pétalas brancas das margaridas dispostas
geometricamente para compor o que chamamos flor.
            Minhas células continuam sua fome de reprodução, mitocôndrias, mitoses, meioses, galáxias internas que respiram comigo. Somos o pó das estrelas em forma de homens esparramados por continentes, países, cidades, inventores da geografia.
            Na casa, as paredes já não comportam o propósito e linguagem da existência. As paredes trincam e arrebentam desnudando o sol de cada verbo. Nu, procuro minha identidade em espelhos estilhaçados, a casa é o planeta. Tinta e emoção nas pontas dos dedos, o planeta engolira meu cadáver, sêmen  e unhas, restara o mistério e palavras digitadas, a paixão ficara trancada em minhas entranhas.
             Noite em torpor oferecendo os lábios, as mãos buscam ventre macio, as ancas,   beijo perfumado seios, libido sem chaves, suores trocados, coxas entrelaçadas, ritmo e fome dos sexos. Cavalgamos indomável chama, extasiados em orgasmos, corpos que se separam na negritude do quarto, subvertendo a morte, restando no chão da cozinha mancha lunar.
            O amor em fuga, em forma de corpo, começa a correr desatinado pelas ruas, casas escuras, avenidas. Meus olhos procuram segui-lo em vão, a  noite agoniza diante do embrião da alvorada. Rompe alvorada e na ferrugem da cidade vasculho  o corpo-amor antes que a mancha da noite fique impregnada na carne dos homens e nunca mais a casa possa ser reconstruída.
             Corpo-amor entre minhas mãos rompe sua carcaça e assim a alvorada segue seu metabolismo. A casa retorna em seu desenho e verdade originais, lá me esperam os personagens, os espectros, a incandescência da palavra...  
                                                                          1986                                         

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Teclado




Na busca do sol 
adormece cinza hora
                                  O olhar-periscópio submerge na noite
                                   acima dos sons  urbanos 
                                   clara Clarice penetra minha pele sedenta
                                   poesia tremeluz
                                                      a luzir Lispector 
                                                       argonauta no continente palavra 
                                                                               países percorridos por entre os dedos
Países sem bandeiras 
sem fronteiras colados ao corpo 
                                            Corpo-todo-lugar 
                                             ponto inicial do vir a ser 
                                             combustão dos verbetes rebelados 
Semente e segmento do futuro 
futuro-agora agita suas asas sem oferecer nada 
expondo o pulsar infernal da palavra
                                             Busco teus olhos dormindo
                                             lisa hora perde-se na chuva 
Palavra utopia que  descolore
descasca 
fica nua até o caroço 
restando a essência neutra
o dia moldado nos dedos 
espera sua dor de nascer...  
                            
                                  1982

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013




Flor sem sede 

 O tempo navio
 movimenta o ar 
 mar  de possíveis bananeiras floridas 
 num setembro derradeiro 
                                            na boca a palavra pavíl
 q'não se escuta 
 mas fere a carne
 O espaço em claridade 
 cidade de hélio e hidrogênio
 corpo de fogo 
 elemento gêneses
 consumindo pulsar fetal 


                                                                 Derradeira flor de água e sal 
                                                                 na tradução sexuada da primavera
                                                                 título inútil  subvertendo dia em farrapos
Navio tempo
livre de âncoras e telefones de granito 
perfume em delírio 
ecoa metal 
no homem andando na cidade 
na cidade andando no homem 
tatuados na dor 
verbo vivo
                                                                 Corpo fora do corpo 
                                                                  caminhos percorridos 
                                                                  principiando a noite elétrica
                                                                  Indestrutível poesia povoada 
                                                                  desovando jardins 
                                                                  prometer incendiar o país.   
                                                                  



Limite 



Azul azul azul
azul azul azul
                     a linha do céu e da terra
                                       em tinta 
                     azul azul azul azul 
                                                 tua presença
o mar de ponta cabeça
                          ave azul azul azul azul 
                           verbo 
azul azul azul azul azul conjugar a rosa 
                                                        entardecendo 
cor q'não sai de mim 
                           presença tua queimando o dia 
                           (azul) (azul) (azul)(azu...
                                                a viajar pela cidade 
                                                 sua mão feliz   

   

domingo, 8 de dezembro de 2013

Ultima estação 




vai passando trem noturno
fica para trás nuvem de cobre
fica azul ultramar
passam flores esquecidas
passam lembranças tortas
              passa trem noturno
              trilhos sem fim
              estações sem nome
                                                   passam amigos
                                                   passa poema
                                                   passam luzes
                                                   cidades incomensuráveis 
                                                   subúrbios febris 
passa o trem
movimento retilíneo
trem veloz 
noite a dentro 
solidão queimando
amores sem registro
trem
corpo férreo não pára
corpo passagem 
vai o trem 
passam andarilhos 
passam lutas
trem noturno 
                                                     passa a vida 
                                                     viagem desatino
                                                     filme lento a frente dos olhos
                                                     passam montes
                                                     vales
                                                     serras 
                                                     planícies 
                                                     gira emoção 
                                                     roda de ferro 
                                                     fotografia de giz 
                                                     expresso noturno
                                                     perdido a caminho do sol 
                                                                   a caminho do sol
                                                                   vai o trem levando palavra
                                                                    e meu coração 
                                                                    trã trã trã
                                                                    trã tarã tarã tarã....


1982/2013