primavera incendiada entra pela varanda
tresloucados sabiás em sinfonia
ventania azul leva poesia nua
escancarado sol entre torres
amor fritando nas esquinas
proletários espremidos de estação a estação
sabor de sal na língua
estação a estação
amor procurado
dias e noites passam
poesia e cores copulam
primavera debaixo dos trilhos
procura-se o amor.....
raiz II
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por entre os dedos
escorrem os anos
os cabelos alvos
sentada na cama reportava
navio rasgando oceano
baleias o irmão a mãe
"lontano paese
occhi di mare"
ancorar o sol
Noepoli no álbum das lembranças
paisano lavra o vinho no Brasile
largos paletós
mulheres e prole numerosa
longos vestidos simplicidade e fé
photographias sem data
estrela de rabo
revolução du 24
casas destroçadas no morro dos ingleses
na gripe espanhola funeral de paisano
olhos seguiam o Zepellin
grande guerra explode na Europa
"o partigiano portami via
o bella ciao bella ciao..."
a cobra fumou na velha bota
monte castello montese castelnuovo
o motorneiro Rafaelle percorria
trilhos da cidade São Paulo multiplicava
fabricas casarões cortiços
cidade perdia sua infância
Lucia abrigava os filhos ao seu redor
fio de bigode valia mais que papel assinado
Rafaelle e os irmãos
Zia Rosa criança conheci
Benevento das stregas nunca mais
relógio de bolso guardo centenário
com galhos de arruda e óleo benzia quebrantos
o som da máquina costurando
luz da tarde iluminava nonna Lucia....
natal
chegou com o ultimo ônibus
corpo suado cansado
fome trespassada
ruelas mal iluminadas
na encruzilhada uma oferenda
uma gargalhada ressoou no ar
coração acelerou
laroye laroye
abriu a porta
os filhos dormiam
a mulher sofria internada
celular tocou
nasceu menino....
nem berço nem comida no fogão
a mulher chamava Maria
ele José carpinteiro
chovia muito era dezembro
no morro do Socó.
