Setembro rompe cascas
expele flores
flores que fenecem
libertando imemorial palavra
metabolismo dos alfabetos
ciclo fecundo
sem ser signo
sem ser corpo
sem registro de datas
a mineral construção do verso
elemento do caos original
Pelas ruas sem nome
bocas e dentes desfilam fome
geografia do avesso
velocidade dos dias levados na ventania
Entre luzes e avenidas
descaminhos da dor
amor cicatrizado esparrama aroma no ar
ecoa a morte do tempo
sem pudor sem deuses
manipulo derradeiro poema
Vivo, respiro
as cidades, as pedras
metamorfose das cores
arquitetura dos sonhos
perigo de queimar na chama de um fósforo
Em meus dias
guardo calendários embaralhados
livros inacabados
telas grávidas de luz
resistindo fragmentos de sol
circulando nas veias...
terça-feira, 17 de abril de 2012
sexta-feira, 9 de março de 2012
PRONTUÁRIO 176565
Dedico aos drs. Cleverton e Rosana do hospital Regional/Osasco
Escreverei palavras com raízes
ramificações do real
num oceano de alfabetos e sons
As emoções vividas
circulam sangue e esqueleto
desnudando cicatrizes urdidas no corpo
Escreverei meus versos nas pedras da cidade
e depois esquecer...
brevidade da palavra que vibra
nos degraus do tempo
necessário refazer os passos
refazer caminhos esquecidos
aspirar e expirar
os sonhos recortados
o claudicante amar
revividos da dor
Noites e dias
calendário sem números
pelos andares do hospital
saudade azul e alvorada solar
brilhando nas mãos
com coragem e fé
escreverei....
A cidade não esconde seus pecados
sirenes e motores
reportam cotidiano da angustia e analgésica solução
No quarto de hospital
identidades cruzadas
urdindo dramas anônimos
identificamo-nos fraternos
Cidade nua
não faz assepsia de suas lágrimas
pelos corredores do hospital
espalhar utopia de Hipócrates
sementes de sol
o perfume dos anjos
pintar lúdicos girassóis
versus a lógica exata dos instrumentos cirúrgicos
Profilaxia bacteriana
a ressonância da linha do nascer e do morrer
Com unhas e dentes
retomar um passo após o outro
escreverei o sol a aquecer
meu viver...
quarta-feira, 7 de março de 2012
ECOS URBANOS
Há um verso enlouquecido no ar
em cada esquina, cruzamento, alamedas,
verso faminto a iluminar os becos escuros
a solidão argêntea dos apaixonados
há um verso sobrevivente
roendo a ferrugem da cidade
Há um Mário
há um Oswald
há um Carlos
todos Andrades mestres na poesia
nos versos que escrevo
Há um verso pichado nos muros
o amor fazendo sua ronda
a desnudar bocas molhadas
antropofagia lasciva dos amantes
Há um silencio e escuro
devorando os livros na estante
há um navio sem bússola na noite cega
há um corpo procurando outro corpo
há um gotejar de palavras
armazenando sentimentos
arquivo dos anos vividos
verso esparramado na tela
comovendo o olhar do pintor
multicor sedenta sem tradução
Há um verso a brotar
na subversão dos sentidos
na brevidade da vida
verso selvagem expelindo crua beleza
apesar da crueldade
da brutalidade incontida
na aquarela urbana
Há um verso flamejante arranhado de luz
madrugada de ébano
ciclo em desatino
na carne do poeta
sem tratados sem métrica ou lucidez
cicatrizado em nossas vidas
há um reverso
há um só verso pulsando em mim !
terça-feira, 6 de março de 2012
QUADRANTE PAULISTA
“São Paulo ! Comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original”
Mário de Andrade
01
praça da Sé
estrala no sol
compro ouro compro prata
compro ouro compro prata
praça da Sé
sol de bíblia na mão
apocalipse no chão
desvairismo desdentado
ciganas i prostitutas i nordestinos i desempregados
i meninos a cheirar cola na Sé
catedral dral dral dral dral
bebados dormem nas escadarias do paraíso católico
praça do povo
comícios i ardor
Diretas-já
1 de maio
praça noturna
estilete i dor
praça armada
metrô dos descaminhos metrô aquecendo
noite fria dos meninos-ao-deus-dará
02
anhangá
ronda o vale
enfeitiçados esqueletos
baú
motores aquecidos
esquecidamente identidades
passarela
sobressalto assalto
catadores de papelão
amarrotado amar
negra noite
negror
negror
o vale concreto...
03
praça do patri(arca)
arca colonial
estigma
esquecimento & pó
estátua
poesia boiando no ar da arca
vidraça refletindo
teu desejo carmim
praça nua
poema parado
praça do patri(arca)
arcanjos ateus
namoram indecentes debaixo da estátua
do (pai da arca )
04
viaduto
duto férreo
sem santa nem Efigênia
vendedores de mapas
rota para poetar
vou embora pra ler Bandeira
vou embora encontrar Efigênia
viaduto
memória férrea
cruzar d'olhos elétricos
lojas em fios i luzes
eletrônica magia
rua de cimento
esquecimento i abandono
rua timbiras
rua dos gusmões i velhas prostitutas
estação julio prestes
zarpar hora d'cobre i sal
vou embora encontrar
marionaíma
escrever bachianas palavras.
ARADO E SEMENTE
Todas as palavras escritas
esperam outras nunca ditas
verso e reverso num só fruto
amadurecer o açúcar
instante de todos os sabores.
Escandalosa sede das raízes
desnudando verbo equilibrista
labirintos de perigo e salvação
calendário abrigando
bibliotecas banhadas no sal.
Palavra indomável
amor em silencio e escuro
a fecundar planícies estéreis
corpo inexorável
sou...
demasiado humano.
Sirius
Uma mulher de amarelo, funil de dezembros escorrendo pela boca escura da estátua morta. A mulher de amarelo olha viúva o desabar da noite pesada. Cada noite, uma marca na sua carne magra. Ao seu redor redemoinho de crianças-concreto, árvores-concreto, praça-concreto.
Emocionada espera esperança. Seu coração-tormenta poderia assim descansar de prazer nos carinhos do amante impossível. Embarca no mar de luzes da cidade-concreto-fumaça. Argonauta de cada noite perdida, a mulher de amarelo anda pelas ruas e esparrama bálsamo nas cicatrizes da cidade-concreto-fumaça.
Seu olhar de adeus, um labirinto tragando faminta as pessoas descuidadas que caminham ao seu redor. A mulher de amarelo arquiva faces. Após cada caminhada ela volta para a praça-concreto e fita desolada a vastidão do cosmo, a infinita distância de Sirius.
GAVETAS VAZIAS
Julho seco
abraça ruas, avenidas
periferia crua
sob concreto urbano.
As sementes conspiram primavera tresloucada
Vivaldi de tamborim e berimbau
prematuro carnaval bole
bocas carmim
mulheres cosméticas
cidade azul sepulta seus pecados
despindo amor acéfalo.
O poeta pesca navios
retalha emoções
inventa cores
faminto por palavras esquecidas
velhas amizades
e flores contorcidas buscando luz.
segunda-feira, 5 de março de 2012
ESTAÇÃO OSASCO
Implacável vento andarilho
varrendo trilhos urbanos
lembranças escondidas
identidades fugindo aos olhos
desbotado cenário suburbano.
Cálice da sede
embriaga-se com acordes de metal
o amor em desespero distribui flores decepadas para quem espera nas plataformas
de repente toda a poesia torna-se inútil,
implacável vento levando rascunhos
a palavra sem retoques.
Gente proletária lota os vagões
apenas olham sem emoção
apenas sobrevivem
apenas produzem mais-valia
o corpo balança no vazio
música férrea sem encanto
o poeta inventa semente de sol
para subverter com luz
cotidiano de resistência...
DIÁRIO
Calendário radiado
vertebrado calor e hora crua
urge amoroso cio das palavras
verso quebradiço nas mãos
tigre e furor
Póstumo janeiro
sem lágrimas e agenda carcomida
clarão queimando o escuro do corpo
incêndio correndo andares da poesia.
Escrevo com o pó das estrelas
caminho das tintas e dor
corpo a penetrar o corpo
peles tatuadas
ver verão cicatrizando sombra
cidade despida
uterina musica e céu escancarado.
Nuvens de lembranças
e beijo partido
faca cega, sangue, e biografia em lugar nenhum.
A rede
cabeça de peixe
dorme no prato
sonho em textura de sal
cabeça de peixe
mares, oceanos
identidades sem digital
mineral cumplicidade da porcelana e o animal
cabeça de peixe
genealogia abissal
milagre da multiplicação
cabeça de peixe
indumentária calcária
pré-existência dum alfabeto
em movimento natural
estrelas fulgurando geometria
cabeça de peixe
sonha o som
sonha o ser
cabeça de peixe
apenas esqueleto
apenas escuro
mapa sem instrumentos
âncora não existe
peixe sem ser
OBSERVADOR
Atrás das lentes o poeta
compõe mosaico de luzes e sombras
textura dos dias
a rejuvenescer o amar.
Seguirei meu caminho
radiografando a ventura de cada dia
álbum de emoções e palavra.
Atrás das lentes
volume múltiplo das existências
insistência em acreditar
e esquecer a dor.
Atrás das lentes
desfilam fatos cotidianos
encontros, desencontros, colados a pele
espreitar crepúsculo solar
jornada do planeta no espaço sem fim.
sábado, 3 de março de 2012
ESTRELA DA MANHÃ
ver vermelho entardecer
tarda a primeira estrela
signos urbanos sem sintonia
distorcido ritmo
pentagrama quebrado
descompasso comovendo olhares exauridos.
Concreto oceano de luzes
abrigando sentimentos famintos
cálice amargo sorvido
cravar os dentes
verbo e semente
renasceremos nas primeiras horas da aurora.
Ver brilhar primeira estrela
ver brotar raiz e navio
irmanados como aprendizes
rota e instrumentos
diante da curva linha do horizonte
argonauta e cotidiano bravio...
O GUIA DE RUAS
...procuro e sigo
por ruas de pedra
cruzando palavras vividas
retratos descoloridos
rolam no calçamento levados pelo vento
ruas entrelaçadas pela emoção
desnudando o amor
ruas molhadas de poesia.
Procuro e sigo assim
marcado por cicatrizes e jardim
brisa da serenidade bate no rosto
memória e gavetas abertas
ruas sem nome urdidas na pele
incendiando os passos deixados para trás
procuro e sigo
ruas sem fim...
sexta-feira, 2 de março de 2012
TRADUZIR-ME
Reverbera sobre a cidade
claridade azul e limite
jogo algébrico dos ossos
presença dolorida consumindo as horas.
Na estante os poetas
quedam o meu inquietar
enquanto repousam na fruteira
maçãs oferecendo a face...
saio para a rua de bigode,óculos e bengala sem segredos
sem medos
a colecionar fragmentos da emoção
aprendiz de giz e lousa
reverbera sobre meu corpo
a essência das cores
esboço do amar
palavras por escrever.
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