O
menino que se chamava Fiapo
Fiapo,
menino franzino, serelepe, corria descalço por entre os barracos,
valas de esgoto, sempre sorrindo, de olhar esbugalhado, brilhando
curiosidade, decisão, desafio, intimidando qualquer pessoa.
Morava
na favela do Socó com a avó e a mãe. Nasceu fora do peso, sete
meses, desnutrido com complicações respiratórias, foi batizado as
pressas a pedido de dona Conceição, ela dizia aflita que a criança
era um fiapo de gente ! Vingou na vida graças a sua avó, dona
Conceição uma das primeiras moradoras da favela, sustentava a filha
e o neto, aposentada, sofreu e lutava muito na vida. Ela foi uma
liderança importante na favela por melhorias essências como água e
luz, incomodou políticos, a prefeitura, lutar por seus direitos
naqueles dias era sinônimo de subversão. Por sua dedicação e
coragem conquistou o respeito de todos, até daqueles que viviam a
margem da lei.
A
filha engravidou solteira, abandonou a escola, não tinha juízo,
começou com muito custo a trabalhar como diarista. Fiapo cabulava
aula para ir jogar bola ou soltar pipa perto da linha do trem, e foi
lá que precocemente conheceu o sexo, com mulheres que desejavam
ter aventura e prazer com garotos. Era de opinião, duro na queda,
não deixava-se levar na lábia dos outros, metade dos amigos começou
a cheirar cola, fumar maconha, envolveram-se no crime, ou estavam
presos ou mortos de bala, seu vício foi a bola, o futebol.
Destacou-se
com a bola nos pés, entrou no time infanto-juvenil da favela o
Esperança futebol clube, no inicio foi por que o treinador distribuía pão com mortadela antes dos treinos. O Esperança cresceu
na comunidade, destacou-se no campeonato entre favelas
classificando-se para as finais e por fim ganhou a competição. O
Esperança futebol clube campeão! Foi uma festa geral na favela do
Socó !
Naquela
noite sonhou com um homem forte, negro, de machadinha na mão, olhar
severo, seu olhar transmitia generosidade, Fiapo sentiu que esse
homem iria protege-lo como um pai que nunca teve. Despertou agitado,
sentindo cheiro de incenso do terreiro que a avó Conceição
frequentava.
Fiapo
era o craque do time, um olheiro profissional esteve naquele jogo da
final
para descobrir novos talentos, gostou do garoto, procurou informações
e um dia voltou a favela para conversar com os responsáveis por
Fiapo.
A
conversa foi longa, dona Conceição desconfiada custou acreditar que
seu neto iria ganhar a vida jogando futebol, pediu garantias, o homem
trouxe um contrato, o clube comprometia-se com benefícios para a
família toda. Conceição, sabia ler e escrever e era experiente com
as coisas da vida e antes dela e a mãe de Fiapo assinarem, Fiapo
pediu a palavra e disse que só sairia da favela com a avó e a mãe.
E
assim foi, Fiapo e a família mudaram-se para o litoral paulista,
próximo a sede do clube, agora tinham uma casa, conforto,
frequentava a escola, e tinha um só objetivo realizar seu sonho
com a bola nos pés. O homem forte, das machadinhas, sempre o
visitava nos sonhos, agora com um olhar paterno...
2013