ESPADA DE OGUM
É noite no meu país
meu país são meus
braços
pernas claudicantes
É noite sem limites no
coração
meu coração paulista,
mineiro, baiano, amazônico também.
É noite no meio da mata
no meio da oca
velho cacique a evocar os
deuses
floresta arde nas chamas
águia real em fuga
rios contaminados,
envenenam as lágrimas do
manatim.
Mogno contrabandeado
emoldurando nobre côrte
“Deus salve os
piratas”...
No meu país sou branco,
negro, mulato, índio,
É noite na Avenida
Paulista, na periferia, no agreste, no pampa gaúcho,
e´noite sem luar,
noite de ferrugem e sal.
Auriverde capitania
triturada feito bagaço
de cana
novos senhores da senzala
em vil aliança mercantil
prostituem as riquezas do
Brasil
chafurdam na corrupção
e mazelas
infame episódio
sustentando quinhentos
anos servil.
Auriverde capitania
sangra pau-brasil
sua acorrentada história
no meio das cidades
meninos descalços
meninos prostituem-se
meninos famélicos
morrem de verminose,
overdose,
pátria que os pariu...
No coração do Brasil
dançam os orixás
saravá Oxossi, Iemanjá,
Ibeji, Jurema, Xangô,
Yansam,
saravá preto velho,
baianos,
Oxalá,
lavando a dor,
lavando o pus,
espada de prata gira no
ar !
Ogum e seus guerreiros.
Brilha espada de Ogum a
desfazer noite de chicanas,
sombras, usuras no
planalto central...
No céu brilha cruzeiro
do sul
erguer inconfidente
bandeira
refazer a luz de cada dia
construir com as mão
novo Brasil !
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